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Ali, no canto…

É aquele mísero desespero

Que fica ali

no canto mais pérfido da saudade

Entre a falta e a insegurança

que não me deixa mais dormir

 

Porque ferve

Verve

E esconde

sobre a alcunha de te precisar pra sempre

que nunca o estar ao teu lado

será o suficiente

 

É o problema insolúvel da perfeição

da harmonia mais silenciosa

e da conjunção astral mais sinuosa

que me transa e me sufoca

me declara e me despede

me mira e desfoca….


Tua cidade e minhas saudade sob os meus pés…

Interajo, tento viver organicamente a tua cidade

Ao mesmo tempo que lido com a saudade

controlo minhas ganas e minha vontade

todos meus ciúmes, meus medos,  minhas angústias e ansiedades

 

Vejo no tango uma diferença até então despercebida

Jogo meus pés, minhas pernas e meus feriados para qualquer outra vida

Tento, em vão, saber quantas horas e micronésimos de segundo ainda faltam

Quantas taças, quantas uvas e qual o melhor vinho

Serviria, mesmo que por pouquíssimo tempo,

para deixar de dançar e ouvir apelos virtuais de carinho

 

Difícil alimentar esperanças se a fome já me consome e me alivia

Se os pedidos mal-humorados tornam-se ritmos de coros infantis

Na escrita me apago, na música viajo e tenho, sob meus pés

a cabeça cheia de planos entre o limbo e a infinitude da saudade

 

 


Pequeno, singelo e sincero….

E de repente, no bolso da camisa acostumada a despertar tarde, vejo que ainda está lá a linda rosa e o bilhete apaixonado, aumentando a saudade, alimentando a angústia e inspirando a beleza…


Precisa falar algo?

Pois saiba que através destes olhos

leio textos brilhantes

sedutores

calmos e intranqüilos

 

Escuto silêncios

e fotografo no escuro

teus seios, teus lábios quase carnudos

teu sorriso alvoroçado

e teu suspiro mais profundo

 

Sinto que nunca mais

poderei sentir mais que isso

…mas logo depois

na manhã seguinte

vens com aquelas músicas

e me mostra que ainda há um abismo

6 633 000 000 000 000 000 000 000 000² átomos possíveis

para preencher com um gostar espontâneo

doce, macio

os planos de saudade que parecem nunca mais querer nos deixar a sós…


(Des) heletric heart

Há muitos mundos para lá

para além de lá

o caminho irracional e passional que existe entre 1 e 2

entre 1 eu cheio de coragem

e 2 tu(s) cheios de perguntas

 

Há um mundo para ir juntos

há coisas e inúmeras estórias para compartilhar

Algumas mordidas em bombas inofensivas

e outras em bocas cheias de vida

 

Há bagunças que precisam permanecer no caos

mesmo as do mundo de dentro de cá

assim como as saudades

essas sim, precisam sempre ser sentidas

para que no próximo tão esperado encontro

sejam logo esquecidas

 


Se…

Se eu disser que sinto tanta saudade, assusto

Se disser que eu não sinto, minto e machuco

Se eu afirmar que não sinto falta, me enjôo

E se eu admitir que me falta, me sobra tudo pouco

 

Se eu soubesse como agir, não seria assim agora

Se não for assim agora, eu jamais me sentiria tão bem

E se eu fosse um texto, seria escrito com teu corpo

E se eu não fosse teus corpos, nunca saberia que um dia seria plena vontade

 

Se eu só tivesse um guarda-chuva, griparíamos juntos

E se eu dançasse tango como Fred Aster, talvez nunca nos conhecêssemos

Fazendo de toda essa lacuna de saudades e de risadas

nenhuma chance de sequer existir, ou sequer calar..

 


Breve conto sobre as relações afetivas na urbe moderno-contemporânea OU “Como saturar o título para aproveitar o conteúdo!”

Foi entre um bocejo, um beijo e um suspiro, iluminado pela contra-luz que a luminária pequena do criado mudo criava, cercado de livros que estavam espalhados por todos os lados, que ele desconfiou ter ouvido que talvez ela tivesse tentado falar que poderia estar começando a ficar com medo. Receoso, e com uma cara que não poderia ser vista claramente naquele ambiente escurecido pelos cheiros de suor, vinho e novos gemidos, desviou o assunto, esqueceu da hermenêutica e da dialética que tanto defende nas suas discussões cotidianas, e voltou a compartilhar carinhos e beijos sonolentos.

 No outro dia, a grata surpresa de uma despedida mais próxima fez com que o medo agora vestisse um elegante traje invernal. O medo que ele sentia, e que ficou escondido na não-resposta da noite anterior, era o de passar tempo demais até conseguir sanar, mesmo que temporariamente, uma saudade que já nascera há muitos encontros e noites atrás. O texto escrito por gestos e vozes ondulantes era um imprevisível conto, um causo sem respostas para o futuro e uma narrativa sem nada de mimese. Era como um ensaio de uma crônica de uma vida já anunciada, e de milhões de outras perguntas que não esperam mais ficarem veladas…


Silêncio

Se o resto é o silêncio, me sobra pouco. Me sobra quase nada. Um bom carmenère, contatos esporádicos de  diferentes graus, e uma vã tentativa de aproximação.

O que acontece depois do coice, e do coito, é inválido. Não invade nem a ipseidade ou a mesmidade. Não narra nada, não conta ou versa sobre o mundo fantástico das ruas sujas, muito menos sobre aqueles que não usam mais suas macias roupas íntimas.

Se só não há merda que se compare com a merda da pessoa amada (vide Leminski), não se pode deixar de lado o fedor horrível e pérfido de fotos jogadas no porão, de uma vida medrosa sem música, sem amigos e sem nenhum gole de vinho.

Entre um devaneio e outro, surgem cigarros que teimam em driblar a disciplina de um corpo indisciplinado, afligem pulmões que não sentem mais arrepios, dilaceram estômagos que não se preocupam mais em ficar vazios, e afrontam “razões” que vão além da estática do frio.

Se ela resolveu não responder, é porque tem a liberdade para fazê-lo. É porque assim me sinto melhor, e faço com que o mundo complicado dos afetos e sentimentos seja menos doloroso para aqueles que me cercam.

Pobres Marias, Josés, e tantos outros que tardam em concretizar a certeza de uma vida vivida sem restrições ao exercício de afetos sinceros…


Será preciso?

Eu preciso de tempo. Preciso de um tempo para ter nada pra fazer. Preciso de tempo para beijar alguém em um café, num dia nublado qualquer. Preciso de mais tempo com amigos e com parentes. Preciso dar um jeito de não precisar mais arrumar os dentes. Preciso escrever letras e compor canções. Preciso de tempo, espaço e gente para tocar essas canções. Preciso continuar evitando filhos, me aproximando de sobrinhos e primos, e ser muito, mas muito mais irmão.

Preciso descobrir como ser mais atencioso e menos preguiçoso. Preciso de foco, e de força para não ter dinheiro. Não quero ter dinheiro, só o necessário para chocolates, livros, discos e filmes. Preciso que o dia tenha algumas horas a mais, mas para dormir, e não para estar a frente dos outros.

Não preciso de guarda-chuvas, nem uma memória melhor. Não sei quanto tempo demorará para minha cama não encharcar quando chove, e quando não terei mais que fingir que quero estar do lado de algumas pessoas.

Quero estar do lado dos outros, de pessoas legais e chatas também, para ver quanto as outras pessoas que não acho nada também são muito legais.

Quero enfim, sentir mais as artes. Quero estar do lado de poesias e poetas amadores. Loucos de cara, ouvindo que as coisas sempre estão boas, e que mesmo assim ainda podem melhorar. Mas o que preciso mesmo agora, é dormir sem me preocupar com o que preciso, e sim aprender a valorizar o que tenho hoje, o que sei que não posso perder e que terei que ter, por necessidade sentimental e prática, para sempre.

O ser pleno do repouso e do devaneio está no lado B desse disco, que teima em não terminar com o lado A.


De Nei, por mim, para uma mulher…

São beijos, peles, toques, texturas, gostos, olhares, dedos, músicas e desejos.

São mulheres que passam, que cruzam e descruzam pernas libidinosas e puras.

São olhos doidos, planos de assaltos, salões onde me vejo sozinho por receio de ti.

São por diversas vezes que desenho corpos, olhos e anos verdes, azuis e vermelhos de raiva.

São toques de um cigarro no céu, algo ruim e algum desastre definido para o fim, de um agora e/ou nunca, de chamas e de um amanhecer longe de todas elas.

As mulheres, ah mulheres! Todas elas não fazem parte de nenhuma das partes que tenho de vocês em minhas transas.

Não são imensas e nenhum pouco intensas como as que nunca tive, pois hoje sou apenas nada. Um instante e um quase-tudo, lembrando de poemas de quase-amor, de versos reversos e aspirações perdidas em noites de insônia e saudade.

Pois hoje todas são, e ao mesmo tempo em que todas poderiam ser, nunca conseguirei ser. Sou uma janela quebrada, roída e ruína de uma saudade escancarada.

O que fazer, enfim, para esquecer de vez de meus espelhos e meus medos? Se acordo com anjos bonitos, se meus passos lentos me envolvem em teus sorrisos sinceros e apressados, que nenhum adeus pode apagar?

Não há espelhos no mundo em que eu me veja sorrindo, e não há olhar doce que possa apagar meus erros. Copos de chuva ou dragões em torres que redimem meus pecados.

Depois de tantas baladas vazias, deus de longe e o diabo tão de perto, vale a pena esperar por centavos de dor?

Vamos, que seja pra Babylon, para Calcutá, em um verão, ou inverno, vamos pra la? Escutar um blues, rock and roll, qualquer coisa que sejamos juntos, para sempre, próximos e únicos, de vários gostos e de todas as formas possíveis.

Mulher, que dentre todas habita em meus medos e meus desejos, qual delas és tu que será um dia nós, eu, eles e o mundo? Quantos medos tenho em achar a resposta, e quantos goles ainda terei que aguentar para entender como lidar com tantos quereres sinceros e honestos?

E no final, o amor que você recebe, é igual ao que dá (ou faz).