Será preciso?

Eu preciso de tempo. Preciso de um tempo para ter nada pra fazer. Preciso de tempo para beijar alguém em um café, num dia nublado qualquer. Preciso de mais tempo com amigos e com parentes. Preciso dar um jeito de não precisar mais arrumar os dentes. Preciso escrever letras e compor canções. Preciso de tempo, espaço e gente para tocar essas canções. Preciso continuar evitando filhos, me aproximando de sobrinhos e primos, e ser muito, mas muito mais irmão.

Preciso descobrir como ser mais atencioso e menos preguiçoso. Preciso de foco, e de força para não ter dinheiro. Não quero ter dinheiro, só o necessário para chocolates, livros, discos e filmes. Preciso que o dia tenha algumas horas a mais, mas para dormir, e não para estar a frente dos outros.

Não preciso de guarda-chuvas, nem uma memória melhor. Não sei quanto tempo demorará para minha cama não encharcar quando chove, e quando não terei mais que fingir que quero estar do lado de algumas pessoas.

Quero estar do lado dos outros, de pessoas legais e chatas também, para ver quanto as outras pessoas que não acho nada também são muito legais.

Quero enfim, sentir mais as artes. Quero estar do lado de poesias e poetas amadores. Loucos de cara, ouvindo que as coisas sempre estão boas, e que mesmo assim ainda podem melhorar. Mas o que preciso mesmo agora, é dormir sem me preocupar com o que preciso, e sim aprender a valorizar o que tenho hoje, o que sei que não posso perder e que terei que ter, por necessidade sentimental e prática, para sempre.

O ser pleno do repouso e do devaneio está no lado B desse disco, que teima em não terminar com o lado A.


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