Silêncio

Se o resto é o silêncio, me sobra pouco. Me sobra quase nada. Um bom carmenère, contatos esporádicos de  diferentes graus, e uma vã tentativa de aproximação.

O que acontece depois do coice, e do coito, é inválido. Não invade nem a ipseidade ou a mesmidade. Não narra nada, não conta ou versa sobre o mundo fantástico das ruas sujas, muito menos sobre aqueles que não usam mais suas macias roupas íntimas.

Se só não há merda que se compare com a merda da pessoa amada (vide Leminski), não se pode deixar de lado o fedor horrível e pérfido de fotos jogadas no porão, de uma vida medrosa sem música, sem amigos e sem nenhum gole de vinho.

Entre um devaneio e outro, surgem cigarros que teimam em driblar a disciplina de um corpo indisciplinado, afligem pulmões que não sentem mais arrepios, dilaceram estômagos que não se preocupam mais em ficar vazios, e afrontam “razões” que vão além da estática do frio.

Se ela resolveu não responder, é porque tem a liberdade para fazê-lo. É porque assim me sinto melhor, e faço com que o mundo complicado dos afetos e sentimentos seja menos doloroso para aqueles que me cercam.

Pobres Marias, Josés, e tantos outros que tardam em concretizar a certeza de uma vida vivida sem restrições ao exercício de afetos sinceros…


Uma resposta para “Silêncio

  • Silêncio (via Notícias do extra-ordinário) | Beto Bertagna a 24 quadros

    […] Silêncio (via Notícias do extra-ordinário) Se o resto é o silêncio, me sobra pouco. Me sobra quase nada. Um bom carmenère, contatos esporádicos de  diferentes graus, e uma vã tentativa de aproximação. O que acontece depois do coice, e do coito, é inválido. Não invade nem a ipseidade ou a mesmidade. Não narra nada, não conta ou versa sobre o mundo fantástico das ruas sujas, muito menos sobre aqueles que não usam mais suas macias roupas íntimas.  Read More […]

Deixe um comentário