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Ali, no canto…

É aquele mísero desespero

Que fica ali

no canto mais pérfido da saudade

Entre a falta e a insegurança

que não me deixa mais dormir

 

Porque ferve

Verve

E esconde

sobre a alcunha de te precisar pra sempre

que nunca o estar ao teu lado

será o suficiente

 

É o problema insolúvel da perfeição

da harmonia mais silenciosa

e da conjunção astral mais sinuosa

que me transa e me sufoca

me declara e me despede

me mira e desfoca….


Vivendo e aprendendo a gostar…

Nesse pequeno jogo de gostar

não é importante saber quem ganha mais pontos

ou quem vai se sair melhor

 

A distância entre as casas do tabuleiro

não é motivo pra piada e nem pra chatices

Não serve para contar vantagem

nem para somar diferenças

 

Aproxima virtualidades e diminui saudades

potencializa paixões e alonga carinhos

E enquanto todos pensam estar errados

estamos, dentro de nas nossas datas particulares

mais certos que a gravidade

mais orgânicos que o carbono

e mais dinâmicos que a inércia

 

Não há distância, não há física nem astronomia

que imagine o quanto sinto por ti

ou o quanto ainda posso sentir

 

Isso nem eu sei ainda

mas é bem mais divertido descobrir aos poucos

sem regra, compasso,

bússola

ou limitações de espaço

 


Tudo em uma mão…

Cabem apenas 5 unhas

mas também 5 anéis,

5 metacárpios

14 falanges

e mais 5 dígitos..

Cabe um encontro harmônico

uma ansiedade monstruosa

uma saudade mais monstruosa ainda

e lembranças

demasiadamente vivas, honestamente vivas.

Se pode apertar

mas nunca do mesmo jeito

de quando a falta aperta um coração

No entanto, se aperta a outra mão para

ao bailar, cravar o par em seu peito

Cabem 5 dias

muitas horas de conversas virtuais

promessas de carinhos e coisas boas

além da expectativa de que as próximas

contagens, mãos e dedos

sejam tão orgânicos quanto eu imaginava

quando eramos apenas amigos.

Quando a única coisa que se trocava entre nossos dedos

era o mate não-mordido de tardes alegres…


Tua cidade e minhas saudade sob os meus pés…

Interajo, tento viver organicamente a tua cidade

Ao mesmo tempo que lido com a saudade

controlo minhas ganas e minha vontade

todos meus ciúmes, meus medos,  minhas angústias e ansiedades

 

Vejo no tango uma diferença até então despercebida

Jogo meus pés, minhas pernas e meus feriados para qualquer outra vida

Tento, em vão, saber quantas horas e micronésimos de segundo ainda faltam

Quantas taças, quantas uvas e qual o melhor vinho

Serviria, mesmo que por pouquíssimo tempo,

para deixar de dançar e ouvir apelos virtuais de carinho

 

Difícil alimentar esperanças se a fome já me consome e me alivia

Se os pedidos mal-humorados tornam-se ritmos de coros infantis

Na escrita me apago, na música viajo e tenho, sob meus pés

a cabeça cheia de planos entre o limbo e a infinitude da saudade

 

 


Passos perdidos em um cabide bagunçado

-Baxinho safado!

-Foi a primeira música que me veio na cabeça, eu juro!

Acho que essa foi a única vez que ele mentiu pra ela. Mentira não; seria forte demais, e sentimentos fortes demais já ocupam lugar nessa dança. Os passos, pelo contrário, são leves, macios e inexplicavelmente orgânicos. São naturais, espontâneos, e de uma harmonia que daria inveja a Netuno.

Não sei dizer se aquele foi o verdadeiro primeiro passo. Talvez tenha sido mesmo. Porque uma dança – ahhh, uma boa dança – não começa só quando as mãos se juntam, as respirações se encontram e os cheiros vampirescos se batem. Tudo começa, dizem os que entendem, quando as janelas se olham, e quando as distâncias parecem muito mais distantes que todas as viagens do homem a Lua. Aos poucos, enquanto todos rodam e rodam sem saber para onde ir, enquanto casais se digladiam com sapatos de pontas finas e gravatas borboletas, os dançantes se olham como se fossem saber que aquilo tudo será apenas o começo de uma eterna valsamambosambaforrozeadocomtango e que, de todas contradições possíveis, eles são a representação da melhor de todas.

Os pés quentes aquecem as extremidades geladas. Gargalhadas abismais engrandecem pequenas camas. Mordidas conseguem até melhorar o gosto do mate, acordar cedo agora parece ser uma tarefa arduamente prazerosa. Nacionalidades e passeios turísticos são colocados todos de cabeça pra baixo, novas profissões são re-inventadas, e todo tipo de declaração é realmente sincero. Bilhetes descarados são escondidos. Livros e roteiros são completamente esquecidos, e tudo que parecia não ter sentido nenhum conjectura ao lado dos astros.

Os passos seguintes continuam na mesma regência astral e suntuosa. Cada vez mais imersos em uma partitura só deles, os dois começam a perder a vergonha e o medo de mostrarem que são tão incompletos e medrosos quanto todos os outros dançantes iniciantes. Esquecem que a luz já acendeu, e esquecem que “O Soool já raioooou!” para continuar abençoando o bendito maestro que inventou o botão “Só mais 10 minutinhos, por favor!”.

E assim, pernas se cruzam e cidades se desencontram só pra provar que nenhum salão é grande demais para quem sabe bailar com simplicidade, sinceridade e entrega…


Pequeno, singelo e sincero….

E de repente, no bolso da camisa acostumada a despertar tarde, vejo que ainda está lá a linda rosa e o bilhete apaixonado, aumentando a saudade, alimentando a angústia e inspirando a beleza…